BASE BÍBLICA DE MISSÕES

05-01-2011 09:21

BASE BÍBLICA DE MISSÕES

 

 

Introdução:

 

Pr. Timóteo Carriker, em seu livro:  O Caminho Missionário de Deus, afirma que a identidade e a própria sobrevivência do povo de Deus, no Velho, bem como no  Novo Testamento, estão diretamente relacionadas à sua compreensão de seu papel no mundo e ao seu compromisso com este papel.

 

É uma crise de  identidade e  missão. É mister que o povo de Deus sempre volte à Bíblia para reexaminar  as bases da sua identidade e vocação, a fim de melhor  realiza-las dentro do seu contexto específico e atual.

 

Aliás, a própria existência da Bíblia é uma prova do desejo missionário de Deus. A comunicação de Deus nas  Escrituras é evidência do seu amor e de sua preocupação para com a humanidade.

 

Neste estudo, vamos através da Escritura, conhecer  o Plano de Salvação de Deus para todos os homens.

 

I – Gênesis

1-    Incumbência e Queda do homem – Gn 1-3

 

No relato da criação em Gênesis 1 e 2, vemos que  toda a criação tem sua centralidade e finalidade na  humanidade (Sl 8.4-6; 115.16). Deus criou três grupos básicos de reinos, ou domínios, nos três primeiros dias (dia 1: Luz e Trevas; dia 2: Céu e Àguas; dia 3:  Terra e Mares);  Nos próximos  três dias, Deus criou  os reis para governarem nos reinos anteriormente criados: ( dia 4: os luzeiros; dia 5: as aves e peixes; dia 6: os animais).

 

O último rei a ser designado é o homem, que recebe mandato representativo e real, como  governador-administrador sobre todos os outros reis e reinados.

 

 

Por isto, a humanidade tem um chamamento representativo para reinar como Deus reina. Por esta razão, o ser humano  é não somente o servo do Senhor, como também representante Dele.  Assim como Deus faz, o representante deveria fazer, refletindo  as características do Criador.  Nisto, a realeza e o domínio  de Deus são refletidos  no domínio e na administração apropriados da  humanidade sobre a criação.

 

Daí o Gênesis mostrar o homem como um ser criado à imagem e semelhança de Deus (1.26), para ter  domínio e sujeitar a terra.

 

A  queda – Gn 3.1-7

 

Na queda, o homem rejeitou a soberania de Deus. Recusou-se deliberadamente a ficar sob sua dependência, negando assim a sua soberania absoluta, e a sua divindade. Ao dar ouvidos à serpente,  rejeitou a sua responsabilidade de  controlar  e dominar os seres viventes.

 

O homem é uma criatura dependente de Deus, e encontra sua dignidade e  sua própria humanidade na sujeição a Deus.  Valdir Steuernagel põe em relevo a significância disto quando afirma:

“Um dos pecados fundamentais do homem tem consistido  no seu inconformismo  com o fato de ser criatura, e o seu anseio doentio de ser igual a Deus.  O relato da criação nos leva a diferenciar definitivamente  entre  Criador e criatura, e a constatar que a  criatura está no seu devido lugar quando se aceita como tal... Só há  uma realização  e sentido para o homem na medida em que ele reconhece a Deus como seu Criador, e a si mesmo como criatura  chamada a uma nobre tarefa, na obediência a Deus”.

 

Como resultado da queda, o homem tende para a desintegração e a desordem, ou seja, para o caos. Esta é a conseqüência em todos os seus relacionamentos: com Deus (3.10), no matrimônio (3.12), entre irmãos (4.8) e no ambiente (3.17-19).

 

Com o pecado, Deus pôs em execução um plano de redenção para a humanidade, plano este que Ele havia traçado  por meio de Cristo Jesus – o Redentor da humanidade       ( Ap 13.8; Gn 3.15).

 

A idéia de redenção já está  presente de forma implícita nos relatos da criação. O  mundo que Deus declarou “bom”,  depois de  haver caído, ainda aguarda a sua redenção (Rm 8.24), quando passará  a ser novos céus e nova terra.

 

Portanto, o Antigo Testamento encara a  criação da perspectiva da redenção.  É o grande projeto do reino de Deus. O pecado é a grande desordem que tenta frustrar a obra de Deus;  a salvação é a recriação  que vence o pecado e recupera o controle do grande plano de  Deus.  A mensagem missionária  é uma mensagem de redenção. O foco central está na libertação do homem e sua completa  restauração à dependência de Deus.

 

2-    Misericórdia e Julgamento – Gn 4-11

 

O quadro que nos é apresentado nos capítulos 4 a 11 de Gênesis deixa claro a tendência pecaminosa dos descendentes de Adão. A violência era uma das expressões mais evidentes do pecado do homem,  e lançou a sociedade  numa projeção  de auto-destruição antes do dilúvio (4.8; 423; 6.11-13).  Esta situação é descrita em Gn 6.5:

“Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era continuamente na terra, e que era continuamente  mau todo desígnio do seu coração” -

 

Deus, que “aborrece todos que praticam  a iniquidade” (Sl 5.5), anuncia um julgamento universal, o dilúvio (Gn 6.7,13,17).

 

Porém, mesmo que a humanidade tenha passado o limite da tolerância divina, Deus não desejou  a destruição total (I Tm 2.4 ). Sendo assim, chamou um homem, Noé, considerado “justo diante de Deus” (Gn 6.7; 7.1), e o salvou, ele e toda a sua casa. Em Noé, haveria um novo começo, uma nova  humanidade.

 

Após o dilúvio, Deus faz uma aliança com Noé, a primeira aliança explícita, onde promete não mais provocar uma calamidade global para destruir toda a humanidade. E nesta aliança, as ordenanças de Deus  para o primeiro homem, Adão, são repetidas e ampliadas  para esta nova  humanidade (Gn 9.1-17).

 

Gn 10- As nações

 

A lista das nações  em Gn 10 mantém a ênfase bíblica que a humanidade é uma só,  todos descendentes de Noé, e sob o único Criador.  Deus esperava ter um relacionamento  com sua criação, uma vez que a humanidade toda lhe pertencia. 

 

Porém, no capítulo 11,  mais uma vez, a rebeldia e a arrogância humana se manifestam, na construção da Torre de Babel. Com um esforço coletivo, numa desobediência deliberada à uma ordem divina,  o homem se projeta numa tarefa  tipicamente grandiosa  do desejo da fama e da auto-suficiência arrogante. Seu alvo  pretensioso era  de chegar até o céu e sua determinação de “tornar célebre o nosso nome” (11.4). O homem procurava grandeza na fama e no poder.

 

Deus evitou esta concentração do homem com seu julgamento divino, confundindo  as línguas, provocando assim, a dispersão destas nações. (Gn 11.1-9).

 

A partir do capítulo 12 de Gênesis,  há uma concentração de Deus numa só pessoa, Abraão, e seus descendentes, Israel, através dos quais Deus  realizará seus propósitos redentores para todas as nações.  A linguagem de Gênesis 12 reflete a transição da história  universal  de Gênesis 1.-11, para a  história da salvação.

 

 

3-    A Eleição de Abraão e a Aliança – Gn 12.-50

 

O chamamento de Abraão  era a resposta de Deus para o caos das nações.   O grande tema de Gn 12-50 é a  “bênção de Deus para todas as nações da terra” – Gn 12.3; 18.18; 22.18; 26.4;28.14.

 

A eleição de Abraão (Israel) nunca teve como alvo ele mesmo, ou a bênção dele próprio.  Ele, além de receptor,  teria o papel de “mediador” no plano salvífico de Deus para todas as famílias da terra.  Israel, herdeiro desta promessa para Abraão por descendência, também seria  um canal, “não um depósito”,  das bênçãos de Deus no seu desígnio último para as nações. Quando Deus escolheu Abraão, não abandonou as nações,  mas o fez a favor delas.                  

-          a eleição implica em serviço – I Pe 2.9; Ex 19.4-8

-          o serviço especial  da eleição se define numa função sacerdotal – Ex 19.6.  Israel teria um ministério de representante de Deus  diante das nações. Sua justiça em relação ao próximo e sua  dependência dum só Deus serviria de modelo para as nações que a soberania do Deus Criador iria alcançar.

 

EM ABRAÃO/ISRAEL, TEMOS A PRIMEIRA GRANDE COMISSÃO

 

 II- ISRAEL – A MISSÃO MISSIONÁRIA DE DEUS  - Êxodo 19.4-8; Is 43.10; 39.3,8

O propósito de Deus para com Israel pode ser visto como:

 

1-    Fazer de Israel  uma propriedade particular 0 Ex 19.5 –

 

um povo exclusivo, especial. Aquilo que

alguém tornou seu  por meio de algum esforço. Israel era uma nação que veio à existência por um milagre divino e se tornou livre também por meio de uma operação divina.

 

2-    Fazer de Israel um reino de sacerdotes – Ex 19.6. Uma nação mediadora das bênçãos de Deus.

 

3-    Fazer de Israel  uma nação santa – Ex 19.6. Através das leis sacrificiais Deus introduziu em Israel

noção de pecado e ensinou o seu povo a santificar-se.

 

Com Abraão vemos que o plano redentor de Deus para as nações se realizaria através de  um povo,  Israel.

  A própria história ou relacionamento de Deus com Israel começa com um ato de Salvação – o êxodo. O Êxodo era lembrado por Israel como o ato do seu nascimento e da sua criação (Nm 14.19). Estava no cerne da lembrança da eleição desta nação (Os 11.1; Sl 105.38; Is 43.1,3). O Êxodo  é a base para a tipologia cristã que antecipa a obra redentora de Cristo Jesus ( I Co 5.7).

 

Deus fez uma aliança com a nação de Israel, onde este povo foi exortado á obediência à lei outorgada pelo Senhor, e toda a história subseqüente da nação gira em torno desta aliança, que Israel não guardou (Jr 11.10). Em Deuteronômio 28 e em Levítico 26 vemos que o destino de Israel estava traçado mediante sua atitude para com a Lei. A obediência era uma obrigação para a participação de Israel na  aliança com o Senhor.

Israel representaria Deus no mundo, entre as nações. Estava sobre esta nação o Nome do Senhor (Ex 3.14,15; Nm 6.24-27). ALIANÇA, ENTÃO, IMPLICAVA NUMA FUNÇÃO ESPECIALMENTE MISSIONÁRIA DE DEUS.  Em Israel, estava a LEI do Senhor. A lei refletia o caráter  salvador, santo e compassivo do Senhor,  especialmente  através de suas provisões em relação à exploração econômica (o uso apropriado da terra), à injustiça social (os direitos dos escravos), e ao bem-estar  dos mais fracos (o estrangeiro, o órfão e a viúva).

 

Pela obediência de Israel, Deus seria conhecido entre as nações, e seria “desejado” pelas mesmas. Assim, esta nação estaria preparando o caminho para a manifestação do Redentor prometido em Gn 3.15, ou seja, o Senhor Jesus Cristo (Gl 4.4).

 

Assim, vemos que ISRAEL FOI CHAMADO EXCLUSIVAMENTE PARA FAZER MISSÕES!

              

Assim, vemos que Deus estabeleceu uma nação, Israel, uma nação messiânica,com dois objetivos:

 

 

1-    um imediato: estabelecer num mundo idólatra a idéia de que há um só Deus  Vivo e Verdadeiro; 

      (Dn 3.28,29; 6.25-27).

 

2-    um Final, que é revelar esse Deus (Jesus Cristo) ao mundo. meio pelo qual  a bênção da nação se comunicaria ao mundo seria a família de Davi (2 Sm 7.11-

16) o meio pelo qual  a bênção de Davi se comunicaria ao mundo seria o grande Rei que nasceria dela .(Sl 89,3,4,34-37; Lc 1.33,34; Mt 1.1).

 

Assim, vemos que Israel era um meio (missionário) para Deus atingir a um fim (as nações). Deus entrou em um relacionamento especial com um povo específico. Tal compromisso com Deus serve a um propósito missionário. Israel estava “separado” (santo) do mundo  e para Deus, sim, para Deus usa-lo no mundo. Sua vida e conduta devia  dar testemunho para as nações do caráter de Deus.

 

a.    A AÇÃO PROFÉTICA E A ESPERANÇA MESSIÂNICA – Is a Ml

 

Quando Israel entendeu  mal sua eleição, fracassou não só na sua relação de fidelidade  com Deus, mas também na sua relação de  testemunho às nações.  Aliás, uma coisa é  conseqüência inevitável da outra.

 

Deus então, se dirige a Israel por meio dos profetas.  Os profetas  se lançavam contra  os governantes injustos,  inclusive os reis ( Is 3.12-15; Os 8.4), contra os ricos  insensíveis ( Am 6.1-7); contra os  grandes  proprietários monopolizadores ( (Is 5.8); contra os juizes corruptos ( Am 5.12); contra os comerciantes exploradores ( Am 8.4-7); contra os sacerdotes  enganadores ( Os 5.1,2), contra os profetas profissionais da corte e do culto ( Mq 2.2), enfim, contra todos os que transgrediam a Lei.

 

Os profetas podem ser considerados intérpretes da Lei.  O profeta Jeremias denuncia a nação como tendo sido infiel à ALIANÇA feita no Sinai (Jr 34.18). Mas ele consegue entender que  o PECADO é o elemento que impede Israel de ser fiel à aliança com o Senhor (Jr 17.9; 13.23).  A salvação da nação estaria então numa “nova aliança” que Deus efetuaria com eles (Jr 31.31-34).

 

A esperança dos profetas começa a ser depositada, então, no MESSIAS vindouro, o Rei Ideal para a Nação. Sob o senhorio deste Rei-Messias, Israel seria  então O Reino do Senhor. Is 9.1-7; Is 11; 12; Zc 9.9; 14.9.

 

b)   JESUS CRISTO -  O MEDIADOR DA NOVA ALIANÇA  - O REDENTOR  PROMETIDO

 

Jesus Cristo é o cumprimento de todas as profecias do Antigo Testamento – Lc 24.44; Jo 5.39. Ele é a semente da mulher (Gn 3.15; Gl 4.4).  A descendência de Abraão (Gl 3.16), que seria a bênção para todas as nações da terra.

 

Simeão viu N´ele  a salvação de Israel – Lc 2.30-32. Os discípulos  viram Nele  o cumprimento das promessas feitas aos profetas – Jo 1.45,49.

  

Jesus Cristo foi a provisão de Deus para todos os povos.

1-    Ele é o mediador de uma nova aliança entre Deus e os  homens -  Hb 9.16,17;

2-    Ele é o caminho de acesso a Deus – Jo 14.6,8,9

3-    Ele é a provisão de Deus para o pecado da humanidade – Jo 1.29

4-    Ele é o Rei que governará o mundo com Justiça – Ap 17.14; 19.16; I Tm 6.15; Ap 11;15

 

Jesus Cristo é o Deus encarnado (Jo 1.1,14).  Embora sua manifestação tenha ocorrido entre os judeus, e sua missão tenha sido primariamente aos judeus, vemos que, de acordo com o VT, sua missão teria um escopo mundial – Is 42.5,6;

 

A promessa de um Salvador foi dirigida a todos os povos – AT  15.15-18.

 

A- A MISSÃO DE JESUS É A MISSÃO DA IGREJA – Mt 16.18;  Jo 17.18;  Mc 16.15;   Chamamos de   “A Grande Comissão” esta tarefa de anunciar em todas as terras o Evangelho de Cristo Jesus. Mt 28.18 20. A Igreja foi estabelecida para ser o instrumento de ação de Deus na Terra,  para ser o MEIO DE PROPAGAÇAO DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO.

 

Sendo assim, entendemos que Missões trazem para a Terra o Reino de Deus – Mt 6.10; At 1.6-8. Jesus nos ensina a orar para que a “vontade de Deus” se manifeste na terra. E a vontade de Deus é que os homens sejam salvos (I Tm 2.3,4.

 

Ao fazer missões, a Igreja torna efetiva a vitória de Cristo sobre os principados e potestades – Ef 6.10-12; Cl 2.14,15. Embora Jesus tenha destronado os principados e deles tenha triunfado na cruz, eles continuam operando por causa do pecado.  Ao levar Cristo, o Cordeiro de Deus que “tira o pecado”, a Igreja  “tira” estas pessoas do “reino trevas” e as conduz ao “reino do Filho “ – Cl 1.13,14; At 26.17.18.

 

B- A MISSÃO DA IGREJA É  UMA MISSÃO PARA O MUNDO – ou AS NAÇÕES – At 1.8; Mt 24,14

 

É fácil entender este compromisso de Deus com as nações no livro de Atos, quando a Igreja aparece pela primeira vez no cenário do mundo, no capítulo 2, ela surge como resultado da pregação de Pedro às nações – At. 2.5.  E o Espírito Santo capacitou os discípulos a “testemunharem” acerca das grandezas de Deus nas línguas daquelas  nações.

 

Uma vez que os  primeiros cristãos eram judeus, e por causa do exclusivismo judaico não obedeceram de imediato à ordem de ir às nações, Deus agiu na História a fim de tornar esse propósito uma realidade.  Vemo-lo permitindo uma perseguição a fim de espalhar os cristãos para que saíssem de Jerusalém – At 8.1; Vemo-lo levando Filipe para falar com um etíope (At 8.26-39); Vemo-lo guiando Pedro à casa de Cornélio, um centurião romano (At 10. 1-34); E por fim, vemo-lo salvando Paulo, e comissionando-o, juntamente com Barnabé, para ser um “apóstolo aos gentios” – At 13.1-3.

 

C- A IGREJA FOI CAPACITADA PARA CUMPRIR ESTA MISSÃO – At 1.8; Mt 28.20.

          

 

Conclusão:

 

Temos diante de nós uma tarefa não completada. Temos um conhecimento de Deus, e de seu agir na História, desde a criação, a fim de salvar a humanidade perdida por causa do pecado. Vimos que nossa posição e atitude em relação a nossa eleição é fundamental para que o propósito de Deus seja estabelecido, e o Seu Reino se manifeste entre os homens na terra. Qual será a postura que tomaremos diante de tudo isto?